quarta-feira, 14 de julho de 2010

Um idiota na Praça da Sé.



Mendigos, trapos, farrapos de gente.
Nada é belo. A metrópole é bela.
Essa utopia do viver me revela
O que o coração não mais sente.

É surpresa pra quem vê de perto
E se o tempo não trouxe melhora,
Por que haveria de querer ir embora
E deixar um buraco entreaberto?

O poeta percebeu a cor do imundo.
Na verdade era a planta em pessoa.
Se esse veneno todo me atordoa
É que sua raiz vejo vir lá do fundo.

Nas esquinas, nos bares, favelas, no lodo.
Na São João o lixo sai a vagar pelas ruas
Se insinuam... Sorriem... Garotas nuas.
E o vento as jogam de um lado para outro.

Vi um menino com graxa no rosto.
Pedi um churrasco grego. Ele pediu
Um trocado, um fiado, um ‘puta que pariu’...
E do tal lanche nem senti quase gosto.

Há nos bêbados a lucidez senil.
Com um sorriso torpe, amarelo
Fazem da Sé um enorme castelo
E da calçada, o refúgio pro frio.

Outdoors tentam ocultar escombros.
A poeira se esconde nos becos escuros
Vejo o rugir das pichações dos muros
Do metrô, das estátuas sujas, dos pombos.

Essa Paulicéia afinal quer ser bela?
A Praça da Sé mais parece um abrigo
Como um idiota a vagar... a vagar, sigo
Vivendo o passado. Revendo a novela.
novembro/2005